quarta-feira, 4 de maio de 2016

E-book: Ensaios para o ensino da Filosofia (2015)


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Os ensaios deste livro foram produzidos pelos estagiários do curso de Licenciatura em Filosofia da UFSC, em 2014, a partir de dois campos de atuação: o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e o Colégio Aplicação da UFSC. O trabalho de supervisão desses estagiários, ou seja, o trabalho de acolhimento na escola e acompanhamento na sala de aula, devemos a quatro pessoas, sem as quais a formação filosófica dos estudantes careceria da excelência que a experiência humana e coletiva nos dá, nesta tarefa de tornar-se professor, a cada encontro, na escuta e na palavra. São elas: Sandro Ricardo Rosa e Leonardo Francisco Schwinden, do Colégio de Aplicação, e Eliodória Ventura e Eliéser Spereta, do IFSC. A essas pessoas deixamos nossos mais sinceros agradecimentos: pelo trabalho de formação na escola e de diálogo permanente com a universidade. A experiência em sala, desde a etapa da observação e assistência até o momento da prática de ensino, despertou nos estagiários e estagiárias o interesse em muitos dos problemas que integram o nosso sistema escolar, sobretudo no que diz respeito à possibilidade de se ensinar Filosofia (o que significa também a possibilidade de o discurso filosófico produzir algum efeito sobre aqueles que não escolheram a filosofia como modo de vida e/ou profissão). Assim, tais ensaios expressam o trabalho de o estagiário primeiramente se situar como sujeito na escola, entre outros sujeitos, segundo a ordem de disciplinas e de saberes que regulamentam o tempo e o espaço de cada qual; esse esclarecimento põe ao mesmo tempo em jogo o desafio de se constituir uma forma de saber cuja razão é justamente problematizar a realidade (como algo evidentemente conhecido ou inquestionável) e a ocasião de se fazer do encontro, num tempo e espaço previamente dados, o princípio de uma experiência de pensamento e liberdade entre outros. Nada disso, claro, é tão simples, nem seguramente garantido. Depende em parte da compreensão do que fazemos (ou do que é possível fazer) onde estamos, em parte também do quanto o outro está aberto à experiência de aprender a ser livre ao questionar o que pensa ou julga ser. Abrimos essa edição com o ensaio de Helder Félix Pereira de Souza, Por que e como ensinar Filosofia no Ensino Médio? Ou Sócrates contra Eichman: Educar para o pensar ou para o não pensar? Nesse texto, somos levados a questionar o sentido da educação após Auschwitz (os campos de concentração do Terceiro Reich). Para o filósofo Theodor Adorno, a razão de educar se daria no evitar a barbárie. Considerando as possíveis implicações da análise de Hannah Arendt sobre o julgamento de Eichmann, são pensadas duas formas fundamentais de educação, segundo duas espécies de formação: o “tipo Eichmann”, que corresponde à produção de indivíduos prontos a obedecer a seus superiores, sem pensar o quanto esses atos seriam bons ou ruins para si e para outros; e o “tipo Sócrates”: a atividade educacional teria como base um caráter mais reflexivo, compreendido tanto pelo conhecimento de si, quanto pelas implicações das escolhas e ações individuais sobre a humanidade como um todo. Cabem ainda as críticas de Nietzsche a Sócrates e Platão, no sentido de considerar o pensamento reflexivo e moral o princípio para nos converter em animais de rebanho, ao invés de liberar o animal guerreiro. Como essas questões podem nos levar a uma postura em sala de aula no que se refere ao ensino de Filosofia? Que métodos poderíamos utilizar para alcançar os objetivos propostos, os quais, como proposto nesse artigo, opõem-se a uma educação que produza indivíduos do “tipo Eichmann”? Em seguida, lemos o ensaio de Felini de Souza, intitulado The Wall: Uma reflexão acerca do mecanicismo escolar e o ensino de Filosofia, no qual somos provocados pelo clássico filme The Wall, do diretor Allan Parker (1982), Apresentação 11 baseado no sucesso da banda Pink Floyd: trata-se de questionar o ensino enciclopédico que reprime a criatividade e a diferença entre os estudantes, o qual, por sua vez, impossibilita o exercício filosófico propriamente dito. Em tom bastante provocativo e instigante, o ensaio traz várias críticas ao nosso sistema de educação atual, de tal modo que aponta a outro direcionamento: rumo a uma educação para a reflexão e liberdade. E nesse sentido, retoma e atualiza muito do legado de nosso mestre Paulo Freire. Vale também conferir É possível a Filosofia no Ensino Médio? Como é possível?, de Vinicius Arion de Oliveira, quem pensa nossa aptidão filosófica desde a mais tenra idade. As questões mais básicas feitas por nós quando crianças, assim, corresponderiam a um exercício filosófico natural a nós seres humanos, o qual pode e deve ser incentivado na adolescência. Por quê? Justamente para que tais questionamentos e dúvidas não sejam rejeitados como meros “porquês”, mas se tornem princípios para mudanças de pensamento e atitude frente ao mundo. Lucas Beligni Campi abre o ensaio Uma possibilidade para o ensino de Filosofia no modelo atual: o intercruzamento Kanthegeliano em dois atos com um poema de sua autoria sobre o exercício filosófico em sala de aula: ressignificação de si e do outro durante o processo de ensino. Campi direciona seu artigo para a defesa de um modelo Kanthegeliano do exercício de Filosofia no ensino médio, o que consistiria numa compatibilização tanto da proposta kantiana, de um ensino que proporcione o exercício da autonomia aos educandos, quanto da abordagem historicista da Filosofia, que é atribuída a Hegel, já que toda a tradição filosófica, com os dilemas e as grandes questões da humanidade investigados, não devem ser ignorados. O foco é, sobretudo, ir além da história da filosofia, fazendo com que o exercício filosófico ocorra em sala de aula, e que as ferramentas para a construção de um raciocínio sólido  e bem argumentado sejam alcançadas nas aulas (em razão do que os professores partem dos clássicos da história da Filosofia). O objetivo não é de pouca importância: permitir ao estudante de ensino médio, através das aulas de Filosofia, viver um processo de ressignificação de sua existência, de modo a fortalecer o seu pensar para o enfrentamento diário dos próprios problemas. No ensaio Ensino da Filosofia: Um exercício Antropofágico, Thor João de Sousa Veras parte do que ele nomeia uma “pedagogia da devoração”, inspirada no manifesto antropofágico de Oswald de Andrade, e que se serve de quatro etapas (aperitivação, deglutição/devoração, digestão e transformação). Etapas que muito lembram os escritos de Sílvio Gallo a propósito do ensino da filosofia, embora aqui esteja em jogo uma apropriação da arte como recurso fundamental para afetar os alunos “com a filosofia, na filosofia e para a filosofia”, contando ainda com o suporte da história da filosofia e a construção de conceitos. Em O ensinar a filosofar e o filosofar sobre a sexualidade, de Diego Luiz Warmling, somos instigados a pensar em como trabalhar a questão da sexualidade nas aulas de Filosofia, a partir de Merleau-Ponty e seus escritos sobre a relação do sujeito com o seu corpo, sua reação à dor e ao prazer, o que importaria à formação da estrutura subjetiva do indivíduo enquanto tal. Partindo de questionamentos como “o que vocês entendem por relações afetivas?”, “existe, de fato, o que podemos entender por uma sexualidade normal? Se existe, o que pode ser definido como tal?”, o ensaio reforça a importância do ensino de filosofia como construção de conceitos, e esboça alguns caminhos para se pensar no ensino médio o conceito de sexualidade. Michelle Ramunno Monteiro, no ensaio Os desafios do ensino de Filosofia para o Ensino Médio, descreve a aparente falta de interesse dos estudantes nas aulas de filosofia  como um dos principais desafios que se apresentam aos professores de ensino médio, situação que foi “desmistificada” com a aplicação de um questionário que indagava estudantes acerca de temas que lhes interessariam. Os resultados foram surpreendentes, pois levam a perceber que o desinteresse não é em relação à filosofia em si, mas ao modo como ela tem sido trabalhada em sala de aula. Como é defendido no artigo, a atividade filosófica no ensino médio não se trata somente de transmitir informações ou conceitos, mas também de incitar a reflexão acerca das questões universais que a Filosofia aponta, o que pode ser feito pautando o plano de ensino em três aspectos: problematizar, conceituar e argumentar. Com o ensaio Sobre o ensino de Filosofia no Ensino Médio, Guilherme Bortoli, apresenta Sócrates como o professor de filosofia por excelência. Investiga sua formação e seus métodos, bem como a importância de o professor ter uma “atitude filosófica” que possa levar seus interlocutores a “ascese do pensamento”, sobretudo segundo o uso da dialética. E ainda temos o ensaio Filosofia no Ensino Médio: Sim, uma experiência possível, de Aldo Félix Barreto, que traz algumas experiências de sala de aula e reflexões do professor supervisor sobre a possibilidade e função da Filosofia no ensino médio, bem como a responsabilidade atribuída a essa disciplina e ao professor pelos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) e OCN’s (Orientações Curriculares Nacionais para o ensino de Filosofia). Acerca da Compreensão prévia e filosofia no ensino médio, Flávio Ricardo da Silva sustenta ser a filosofia possível por conta de sermos e estarmos sempre em contato com o mundo, de modo que o existir, como seres conscientes, se torna o princípio da própria filosofia. Através de alguns exemplos práticos de formas para se trabalhar em sala de aula, o ensaio coloca a filosofia como aquela que “abre o jovem para a possibilidade de ressignificação e enriquecimento da própria experiência no mundo”. Por fim, o ensaio A importância do estudo dos textos clássicos nas aulas de Filosofia do ensino médio: reflexões acerca da docência em filosofia, de Yuri de Almeida, provoca reflexões sobre a situação do ensino de Filosofia após 2008, quando se tornou obrigatório novamente, com a responsabilidade de “ajudar a formar cidadãos”. O artigo nos chama atenção ainda para o déficit de formação adequada de professores, visto que muitas vezes o foco dos cursos de filosofia é o da pesquisa acadêmica e não o da formação de professores. Também observa o quanto é recente o crescimento no número de material didático de filosofia. A proposta do artigo é, sobretudo, mostrar o quanto o estudo dos clássicos poderia iluminar o ensino de filosofia atualmente, tais como Platão e Aristóteles, através dos problemas levantados por esses grandes autores, de modo a tornar possível o exercício do pensamento crítico e efetivamente encorajada a tal “educação para a cidadania”. Muitos contribuíram para a realização deste livro, a começar pelos próprios estagiários, que se serviram de uma experiência em razão da qual a vida profissional é precedida pelo risco de se colocar diante de outros, convencer-se do que se faz como algo que tem algum sentido e pode dar algum sentido àqueles que encontra, reconhecer que o tempo no fim das contas oprimiu e que lamentavelmente não foi possível falar e discutir tudo o que pensou antes e depois de um encontro, mas também descobrir que a inclinação solitária e filosófica pode ser reforçada pela solidariedade de alguns, ao lembrar ter sido despertada certa apatia ou concentrada a euforia. Dar-se conta de que o mundo é mundo no seu devir e fazer filosofia, dar-se a pensar e dar a pensar, eis a diferença, no trabalho entre os jovens de um mundo que nos dá tantas coisas quantas poucas boas ideias, as ideias com as quais Apresentação 15 fazemos mais digna nossa condição tão frágil. A esses primeiramente agradecemos, os acadêmicos com quem aprendemos a generosidade de que ensinar é estar cercado de olhares e distrações, e por isso mesmo o esforço para se produzir e perceber o entusiasmo que nos dá o pensar. Agradecemos de modo especial a todos os professores e idealizadores do LEFIS (Laboratório Interdisciplinar de Ensino de Filosofia e Sociologia), por proporcionarem o debate e a integração entre pesquisadores e professores do ensino médio e das licenciaturas de Filosofia e Sociologia. Nossos agradecimentos ao professor Alberto Cupani, que incentivou e amparou os estagiários durante o ano, em reuniões na universidade e no colégio, além de ter se dedicado à leitura crítica de seus ensaios. Boas leituras! Jason de Lima e Silva Daiane Martins Rocha

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