

A representação de um
homem que se ajoelha e, com o toque de sua testa, desperta na rocha diante de
si a suave forma de uma mulher, que permanece ligada à pedra. Se quisermos
interpretar isso, podemos nos satisfazer com a expressão dessa inseparabilidade
do pensamento apegado à testa de um homem: pois sempre são seus pensamentos que
vivem e se erguem à sua frente; atrás disso há pedra. Relacionada a isso está
também a cabeça que pensativa se dissolve até o queixo em uma grande
pedra. La pensée, esse pedaço de claridade, ser e face que se erguem devagar do
pesado sono da surda permanência.
Rainer Maria Rilke, Rodin, 1902
A cabeça do homem se firma sobre o
peito juvenil de um ventre feminino. Suas mãos e seu corpo estão presos na
terra. Um rosto lhe escapa do cenho e, ao mesmo tempo, acolhe toda sua
introspecção. A virilidade do
pensamento se concentra na terra, enquanto uma perna lhe toca suavemente o
tronco e acende a chama de seus sonhos mais íntimos. Quem me
chama? De sua testa uma força se suspende, como
se um vento lhe atravessasse a nuca para varrer os leves braços de suas ilusões. Os braços viram pedra. O homem se
segura na pedra e por pouco não é varrido também pelo que sempre por si
atravessa e se esvai. O pensamento humano está na unidade de uma
silenciosa luta que a obra recolhe. O homem não pode abraçar o corpo que está além de seu corpo, embora
diante dele se prostre, para não perdê-lo, e contraia assim todos os seus músculos, para não se perder:
como me chegou o que a mim me leva? E num instante tudo volta a ser pedra. Como
da pedra que pesa o tempo de cada ato, a vida esculpe no pensamento o que lhe é sempre desconhecido e o
pensamento recebe da vida a potência além do instante.
Jason
de Lima e Silva
fonte: http://esteticadopensamento.blogspot.com.br/2013/08/o-homem-e-seu-pensamento.html
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